Sem categoria,

DECEPÇÕES

image_pdfimage_print

Não é agradável saber que a vida nos reserva algumas decepções:
Relacionamentos supostamente concretos dissipam-se como fumaça.

Lembro-me que por alguns anos eu me vangloriava dizendo às pessoas que se eu fosse contar nos dedos meus verdadeiros amigos, uma mão não seria suficiente. Contava isto como sendo uma bênção de Deus na minha vida, mas isto era também algum tipo de vaidade. Os anos se passaram e já não estou certo se posso manter esta afirmação, mas creio que hoje, numa ousada contagem como esta, sobrar-me-iam dedos… Relacionamentos os quais já julguei serem concreto, converteram-se em fumaça.

Algumas pessoas reputadas por verdadeiros amigos simplesmente não corresponderam às minhas expectativas em momentos que eu contava com eles. O menos agradável é que normalmente contamos com os amigos não nos bons, mas nos maus momentos, quando as coisas estão fora do eixo.

Pensemos juntos: decepção é fruto de expectativa não atendida.
Expectativas são construídas por nós mesmos em relação ao outro. Ou seja, nós construímos uma expectativa sobre alguém, entretanto, tal pessoa não é responsável por atender às expectativas por nós criadas. Muitas vezes nossa decepção é fruto de nossa própria maneira de administrar relacionamentos.
Nos bons momentos é sempre mais fácil ter e ser amigo pois é muito gostoso rir junto, entretanto, quando nós não somos boa companhia, quando estamos com alguma crise, quando nossa presença não alegra o ambiente, nesta encruzilhada, a gente pode mais facilmente identificar quem realmente está e quem não está conosco. Que decepção!

Quando o meu balão cor-de-rosa explodiu e eu descobri a tal decepção, dois tipos de sentimentos me atormentaram profundamente.

O primeiro dizia respeito à minha decepção em si: “Como pode fulano não ter atendido às minhas expectativas e necessidades justo agora? Quando realmente necessito dele!?”

O segundo, ao contrário, dizia respeito a mim com relação ao outro. Num exercício de autoanálise pensei: “Quantas vezes na vida será que eu já decepcionei alguém? E quantas destas até sem o saber?”

A constatação de que eu certamente também já havia decepcionado algumas (ou muitos pessoas) me corroía por dentro. Saber que eu já havia feito alguém sofrer o tanto que eu estava sofrendo era angustiante, doloroso, deprimente.

Mas não tinha jeito. Esta é a natureza humana que, falível e pecador, vive traindo e traindo-se.
Tem uma história destas na Bíblia e não é uma estorinha de rodapé, é um recorte capital do cristianismo: A decepção de Jesus com o seu melhor amigo, Pedro, que o negou quando ele mais dor sentia. Não basta dizer que “era vontade de Deus”, “Jesus tinha que sofrer mesmo, estava escrito”, “Isto era assim mesmo…”. Tal atitude seria leviana pois, neste caso, poderíamos dizer o mesmo a nosso respeito quando a gente sofre.

Por mais que creiamos que nossos destinos estejam escritos e que não possamos mudá-lo, isto não nos livraria da dor. Pois dor não é racional mas passional. Dor é sentimento. Jesus se decepcionou e sofreu. Jesus previu, mas isto não o livrou da decepção. Dor que o fez chorar, angustiar-se (assim como nós – pois ele era gente também). Dor que o fez suar sangue tamanha angústia ao saber que em instantes ele seria entregue como uma ovelha ao matadouro e os seus seguidores fiéis, amigos, seriam infiéis e fugiriam todos, até Pedro, seu amigão, iria dizer: “Eu? Imagina?! Nem sei quem é este cara. Nunca vi este maluco antes!”

Mas se formos fazer uma retrospectiva bíblica, veremos que muitos foram os grandes homens que tiveram decepções proporcionais e muitos foram os que também desapontaram a tantos outros. A exceção fica apenas para o mestre, meu amado, Jesus: O único que jamais decepcionou alguém que o buscou, fosse um homem ou uma mulher!

Caso você está decepcionado ou decepcionada com alguém ou alguma circunstância, digo: “Bem-vindo ao clube da vida! Pegue a sua carteirinha!” Porém lute para que você não seja o motivo que trará outros para este nosso clube. Que não seja você a engrossar estas fileiras.

Vamos sempre lembrar que Deus, pela mediação de Cristo, não se decepciona conosco, pois ele conhece nossas limitações e nos olha pela lente da Graça, que a todos salva e a todos perdoa. Deus conhece os nossos corações profundamente, sem as nossas máscaras e maquiagens cotidianas.

Luciano Maia

Escrito em 04/09/2008 e publicado no livro “Meu Amigo Rico”.

0

writer

The author didnt add any Information to his profile yet

pt_BRPortuguese