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O CAMPING

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ADAPTAÇÃO DO TEXTO PRODUZIDO EM 8 DE OUTUBRO DE 2016.
Por Márcio Marques

 

O ser humano tem uma inerente atração pela natureza. Creio que é um dos legados do Éden,
quando nós e a natureza nos misturávamos na mesma paisagem, finamente desenhada por Deus.
Esse pertencimento é tão poderoso que bastam poucas horas em meio à natureza para que nossa
energia corporal seja reequilibrada, nossas emoções se harmonizem e nosso espírito entre na
contemplação do eterno.

Mas como somos uma criação muito diversa e heterogênea, o “gostar” da natureza tem várias
medidas. Alguns gostam tanto que trocam o conforto de uma casa com boas instalações, banheiro
privativo, ducha de água quente, colchão de espuma fabricada pela NASA e sucrilhos com leite, por
experiências espartanas, com baixíssimo conforto. Indivíduos que buscam maior sentido para a vida
entre árvores, cursos d’água, sombras e sóis, sons e silêncio naturais. São exploradores de novos
espaços e se ajustam facilmente ao ambiente.

Ao partirem para essas jornadas, carregam os itens que consideram essenciais, segundo suas
vivências: faca, pederneira, corda, lanterna… Principalmente os mais experientes conhecem a
equação: “conforto = peso” e muitas vezes o item “não vale o quanto pesa!” Desenvolver habilidades
é mais estratégico do que depender de muitos recursos. Quanto mais leve, mais rápido.

E qualquer caminho sempre traz consigo muitas possibilidades e desafios. As experiências mais
ricas são aquelas que nos apresentam contrastes mais intensos. Nossa alma, muito mais do que
nossa mente, ama o contraste. A mente prefere o conforto. Lembra da equação? “Conforto = Peso.
E as pedras no meio do caminho? Por mais belas ou representativas que sejam, não conheço
nenhum campeiro que atravessa a jornada colocando as pedras na própria mochila. Ninguém, em
sua plena capacidade, deseja carregar uma “mochila de pedras”!

Pois a vida se assemelha muito a um camping! Quando nos preparamos para encarar essa jornada – a vida – precisamos admitir algumas regras: sozinho pode ser mais rápido, mas é sempre mais difícil; navegue no claro, descanse no escuro; quanto mais desafiador o camping, mais experiente e mais
confiantes saímos dele!

É preciso admitir que o tempo e a prática nos habilitam a campear cada vez mais longe e em áreas
mais complexas. Mas, a despeito da nossa experiência, é certo que percalços ainda nos alcançarão.
Em regra, quanto maior a distância, maior será a probabilidade de nos depararmos com situações
desafiadoras. A diferença é que nas longas distâncias não é possível se esquivar dos problemas…
Enfrentá-los é a única opção!

Também é certo que os guias ajudam a caminhar. Eles nos mostram os destinos já conhecidos, às
vezes atalhos, dando-nos a oportunidade de caminhar com segurança. Normalmente o guia fez a
trilha inúmeras vezes e é exatamente isso que lhe dá autoridade para guiar outras pessoas. Nas
trilhas, nos negócios, nas nossas profissões, na vida espiritual, enfim, sempre encontrarermos
pessoas que reconheceram o terreno antes e estão dispostas a ajudar a sua e a minha caminhada.
Mas… e a mochila de pedras? E os acúmulos? E o lixo juntado, que às vezes não é possível largar
pelo caminho? É com essa carga que devemos agir com especial prudência. Não importa por qual
motivo essas pedras chegaram à sua mochila! O fato é que elas adicionam peso e complexidade à
caminhada. Assim como o lixo, ocupam espaço e causam desconforto.

É saudável, então, que o campeiro use uma estratégia inteligente para caminhar com melhor
rendimento: estabelecer pontos de parada! Neles, organizamos a mochila e os equipamentos – a
vida e as experiências – alijando o peso extra e o lixo acumulados. Naturalmente isso deve ser feito
em local apropriado, sem poluir o ambiente, que é um bem coletivo. O seu e o meu lixo nos
pertencem, e não à coletividade! Eu e você é que devemos dar destino a ele, evitando agredir o
ambiente.

Essa parada para ajustar a carga deixa a caminhada mais leve, possibilitando direcionar a energia
para aproveitar aquilo que verdadeiramente importa: o caminho! A jornada é a própria recompensa.
O destino serve de motivação, mas a jornada deve servir de inspiração. É nela onde as recordações
serão talhadas. Sendo direto, esse caminho é a vida! Essa jornada é o viver! Viver é o verdadeiro
tesouro, sem acúmulo de pedras nem lixo. Colecionando caminhos e destinos memoráveis.

Para consolidar essa experiência, sugiro a você uma caminhada que minha mulher e eu fizemos, há
07 anos, e ainda guardo grandes memórias. A trilha fica em Ilha Grande, no Estado do Rio de
Janeiro. Escolhemos o trecho que parte de um pequeno vilarejo onde ficam as pousadas e vai até
um antigo presídio de segurança máxima, hoje desativado e parcialmente demolido. Origem e
destino são separados por pouco mais de nove quilômetros (dezoito, ida e volta). O percurso é
incrustado na mata atlântica, onde existem pontos de parada com fontes naturais de água potável.
Nelas, o trilheiro pode se refrescar e buscar inspiração para o próximo lance.

Vá! Valerá à pena… Mas aqui segue uma recomendação adicional, além da tradicional garrafa de
água e frutas: vá olhando para fora (a natureza), para dentro (sua natureza) e para o alto. Dê a Deus
(dono de todas as naturezas) a oportunidade de acompanhá-lo nesses passos e para o resto de sua
jornada. Surpreenda-se com o prazer de campear a vida, com o Guia dos guias! Boa viagem…

 

Pr. Márcio Marques

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