Seriam os Evangelhos os primeiros livros de autoajuda?

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O ditado popular ironiza que “Se conselho fosse bom, não se dava, mas se vendia”. Eu rio com este ditado, mas posso afirmar que em minha opinião esta afirmação não passa de uma brincadeira. Não apenas porque estou sempre dando conselhos aos que me procuram, mas, sobretudo, porque eu mesmo vivo buscando conselhos com pessoas que suponho serem mais experientes que eu, procurando minimizar as possibilidades de erros e sofrimentos e ampliando minhas chances de acertos e alegria.

É esperado que uma pessoa instruída, antes de iniciar a empreitada da construção de uma casa, busque conselhos com pessoas mais experientes em construção de casas, como arquitetos e engenheiros. Quanto mais informações de pessoas mais experientes, melhor. Por fim, uma pessoa instruída contratará um profissional experiente para ajudá-lo nesta árdua tarefa.

Se estou com problemas de saúde, busco conselhos de quem entende de saúde mais do que eu: vou ao médico. Automedicação não é o melhor caminho e pode até agravar o quadro clínico.

O mesmo faço procurando mecânicos de automóveis, bombeiros hidráulicos, publicitários e até psicólogos. Com o passar dos anos vamos ampliando nosso universo de conhecimentos e nossa capacidade de cognição e até, eventualmente, podemos dispensar alguns especialistas. Contudo, uma pessoa que se julga dona da verdade, talvez tenha dificuldades em reconhecer que é ignorante em alguns assuntos e queira resolver tudo sozinha. Pessoas assim, caso se aventurem em investimentos na bolsa de valores, possivelmente perderão muito…

Ora, se é inteligente e natural que busquemos conselhos sobre os temas práticos do cotidiano, porque não o faríamos com os assuntos mais complexos, como aqueles que estão dentro das nossas almas, pulsando em nossos sentimentos, influenciado nossos relacionamentos com os outros, com o mundo e conosco mesmo. Porque não deveríamos buscar pessoas que se aplicaram a conhecer a mente e o comportamento humano mais que nós e beber no conhecimento alheio, evitando decisões equivocadas e infelicidades?

Um bom conselho é um presente, mas porque tantas pessoas resistem a procurar auxílio para as suas crises existenciais, julgando-se acima de qualquer conselho ou experiências alheias?

Está na moda falar mal dos livros de autoajuda. Ao que me consta, de fato, existem tantos títulos fúteis e inúteis de tantos autores ilustremente desconhecidos, que o lixo espalhado pelas prateleiras das livrarias até dificulta pinçar o bom conselheiro. Tantas editoras explorando o tema ao limite da exaustão, que até cabe uma crítica ao exagero que se impera. Contudo, a crítica impiedosa e ferina que os mini-intelectuais pseudo-eruditos unanimemente fazem, confirma a tese de que toda unanimidade é burra.

Já que criticas os conselhos, que não vá mais ao médico. Se não queres auxílio externo para tentar compreender algo mais sobre temas complexos da vida, que não mais leia Sartre e outros filósofos, ou estarás sendo hipócrita. Se não queres crescer com a experiência de outros, que desprezes, portanto, os conselhos dos pais.

Eu tive o privilégio de receber muitos bons conselhos durante a minha vida. Em momentos que eu caminhava para o abismo, colegas mais lúcidos me iluminaram a mente, abrindo meus olhos para que eu me desviasse de um caminho que ele já sabia ser perigoso. Noutros momentos de angústias ou dúvidas com relação a escolhas, busquei orientações em pessoas que eu supunha serem mais experientes. Fui agraciado muitas destas oportunidades.

Esta atitude de “meter o pau” indiscriminadamente no chamado mercado editorial de autoajuda é uma modinha passageira.

Até os ateus já possuem o seu guru da autoajuda, Richard Dawkins, que vendeu milhões, convertendo “Deus, um delírio” em sucesso editorial e fazendo com que os ateus não mais se sentissem solitários, mas parte de uma comunidade global e forte, na qual um ateu dá apoio ao outro, saindo todos do armário e vivendo felizes com as palavras consoladoras do mais novo milionário mestre da autoajuda de esquerda.

Jesus não escreveu nenhum livro, nem uma única linha.

Jesus não gravou vídeos ou deu conferências estratégicas.

Ele não andou num raio superior a 70 km, nem alugou estádios, ou comprou caminhões.

Não possuía programas ou canais de televisão e não tinha um blog como este.

Não tinha microfone e nem era querido pelos políticos.

Mesmo assim, suas sábias palavras, seus ensinos originais e sua doutrina radical do amor transformaram e continuam transformando o comportamento de etnias e países inteiros, continuam transformando famílias, vidas e disposições mentais. Seriam os Evangelhos os primeiros livros de autoajuda?

Uma coisa afirmo: os Evangelhos têm me feito uma pessoa menos pior a cada ano e não me envergonho nem um pouco desta “autoajuda”. Sou assumidamente ruim e quero sim, ajuda externa, para tentar curar as mazelas da minha alma lendo e aprendendo por meio do maior best-seller de todos os tempos, a Bíblia.

Se os bons conselhos dos sábios são ridicularizados pelos arrogantes, por terem recebido o rótulo de autoajuda, prefiro, portanto, angariar o desprezo dos filósofos e ironicamente reconhecer que “tudo que sei é que nada sei”, posto a incoerente suficiência dos eruditos, converte-los em tolos.

Agora me conte qual livro de autoajuda pode fazer o que você verá neste filme?
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